Espera por consulta no Tocantins para doenças circulatórias pode levar um ano
Estado fica atrás apenas do Rio Grande do Norte, onde a espera por um angiologista é, em média, de 492,5 dias
Por: Mavi Oliveira
19/03/2025 • 09h00 • Atualizado
A espera por consulta com angiologista no Sistema Único de Saúde (SUS) no Tocantins pode levar quase um ano, segundo ferramenta desenvolvida pelo jornal O Globo. A demora média de 331,6 dias para consultas no estado é atribuída por especialistas à escassez de profissionais de saúde e à má distribuição desses trabalhadores em todo o país.
A ferramenta, recém-lançada pelo jornal carioca, permite consultar a média de espera por consultas em diferentes estados. No Brasil, o Rio Grande do Norte registra a maior demora para consultas em angiologia, com 492,5 dias de espera. Na outra ponta, a Bahia tem o menor tempo, de 9,7 dias. Estados como Rio Grande do Sul, Roraima, Sergipe, Mato Grosso e Piauí não informaram dados sobre a especialidade.

Foto: Marcello Casal Jr. | Agência Brasil
No Tocantins, o levantamento analisou 56 especialidades, mas em 12 não há dados disponíveis, entre elas saúde da família, medicina do trabalho, homeopatia, hemoterapia, psicopedagogia, radiologia, fisiatria e farmácia.
Em nível nacional, dados do Sistema Nacional de Regulação (Sisreg) apontam que, em janeiro deste ano, 5,7 milhões de pessoas aguardavam uma consulta pelo SUS. O tempo de espera varia por especialidade, sendo a oftalmologia a mais demandada em 2024, com 175,9 mil solicitações e uma espera média de 83 dias.
Baixa oferta e distribuição desigual
Ao Manchete do Tocantins, o angiologista Brenno Conde explica que a especialidade trata doenças do sistema circulatório, sendo a insuficiência venosa a mais comum, com sintomas como varizes e inchaço nas pernas. Segundo ele, a longa fila de espera não se deve apenas à falta de especialistas, mas também à sua concentração em poucas regiões do país.
"Para você ter uma ideia, há alguns anos, estamos com vagas de residência ociosas, não preenchidas, em vários locais do Brasil. É uma especialidade muito difícil, que exige pelo menos cinco anos de treinamento integral, além dos seis anos de faculdade", explica o médico.
Outro fator que aumenta a fila, segundo Brenno Conde, é o excesso de pacientes que buscam o especialista sem necessidade urgente. "Se considerarmos que até 80% das mulheres adultas têm alguma variz, chegamos a um número absurdo de encaminhamentos para a angiologia", ressalta.
Ele alerta que a alta demanda impede o atendimento prioritário a casos mais graves. "O grande problema é que pacientes, que não deveriam estar na fila, acabam ocupando o lugar de quem realmente precisa, como aqueles com aneurisma de aorta ou pé diabético avançado, que hoje é a principal causa de amputações no Brasil", destaca.
Pacientes desistem de atendimento
A auxiliar de serviços gerais Márcia Fernanda Pereira dos Anjos, de 51 anos, conta que desenvolveu varizes após o uso de anticoncepcional injetável e esforço físico no trabalho. "O uso do anticoncepcional, aliado ao esforço físico, só aumentou as varizes", relata.
Márcia tentou marcar consulta com um angiologista pelo SUS, mas desistiu devido à demora. "Acredito que, mesmo sem tratar as varizes, não terei problemas mais graves. Parei de usar anticoncepcional por medo de piora", diz. Ela também destaca o impacto estético da condição: "Baixa a autoestima, não é? Mas pelo menos tenho saúde".
Para o angiologista Brenno Conde, a redução da fila passa por uma mudança na cultura de saúde no Brasil, com maior investimento na saúde preventiva desde a infância. "Além disso, políticas de carreira estadual ou federal para interiorização dos médicos especialistas podem ser um bom caminho", conclui.