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Adivinhar as eleições de 2026 é tão arriscado quanto desonesto

O eleitor brasileiro vota com o bolso, com a percepção da vida concreta, com o julgamento do agora

Por: Maurício Carvalho*

14/04/202509h59

Prever o resultado do próximo ano é mais do que inútil. É um erro de método, de tempo e, muitas vezes, de interesse. A política brasileira já desmentiu muitas certezas - e seguirá desmentindo.

A disputa está aberta. Qualquer vaticínio, neste momento, diz mais sobre o desejo de quem fala do que sobre o cenário real. O vício dos diagnósticos apressados atinge todas as correntes ideológicas, mas faz mais estrago em quem governa. É o que se vê no campo progressista - especialmente nas previsões otimistas sobre a reeleição de Lula.

Tenho visto analistas e quadros governistas atuando como se o resultado estivesse encaminhado. Como se o desgaste atual fosse natural e se resolveria com a recuperação da economia ou com o histórico de superação do lulismo.

É um erro grave por dois motivos. Primeiro, o cenário político-social não autoriza qualquer conclusão definitiva. Basta lembrar que a vitória de Lula em 2022 foi por uma das menores margens da história: 1,8 ponto percentual - enfrentando um presidente cercado de polêmicas, inflação dos combustíveis, perda de direitos e alta do emprego informal.

Nada indica que 2026 será mais fácil. Segundo, o otimismo excessivo desmobiliza a autocrítica e acomoda estratégias. Política não é torcida. É disputa de narrativas, presença social e sintonia com o tempo presente. Hoje, o governo enfrenta desgaste crescente, um eleitorado inquieto com o custo de vida, um ambiente urbano violento e uma sociedade cansada dos polos tradicionais.

Nesse espaço, surgem nomes como Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas. Não por mobilização ativa, mas pela combinação entre o desgaste governista e a crise de representação. Tarcísio é o nome mais estruturado da direita. Caiado, com trajetória sólida e livre da rejeição do bolsonarismo, aparece como alternativa viável.

Ambos estão em fase de ensaio. Podem crescer ou desaparecer. Mas são uma possibilidade real de aglutinação das forças conservadoras. Do lado do governo, o lulismo permanece com força - mas seus limites são visíveis. Resiste mais pela memória afetiva do que pela novidade política.

Sim, a economia pode melhorar até 2026. Mas o cenário global preocupa. A possibilidade de recessão mundial — impulsionada por políticas tarifárias mais agressivas dos EUA - já está no radar. E pode dificultar a vida de economias emergentes, como a brasileira.

Confiar cegamente na recuperação econômica seria mais um erro estratégico. O Brasil de 2026 está aberto. Pode ser Lula. Pode ser Tarcísio. Pode ser outro nome. O que não pode é o campo progressista acreditar que o tempo joga a seu favor.

O eleitor brasileiro vota com o bolso, com a percepção da vida concreta, com o julgamento do agora. A única honestidade possível é reconhecer os diversos cenários em que Lula pode vencer ou pode perder. A direita pode reaglutinar ou se fragmentar. E, assim, permitir estratégias possíveis para os cenários.
O que não pode é a análise política servir de consolo. A política real nunca foi território de conclusões fáceis. Quem age como se a vitória já estivesse escrita no passado, corre o risco de tropeçar no presente.

*Maurício Carvalho é publicitário e estrategista de marketing político.

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