Ainda Estou Aqui: um Oscar que reflete a luta pela democracia brasileira
A obra serve como um alerta sobre os perigos do autoritarismo e da intolerância
Por: Julienne Silveira
20/03/2025 • 08h42
O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, alcançou uma significativa conquista ao ser premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Essa vitória transcende a esfera cinematográfica, ganhando uma relevância cultural e política que ressoa profundamente no contexto atual da democracia brasileira a cada falácia sobre o pedido de anistia. A obra, ao abordar a memória da ditadura militar e seus impactos sobre a sociedade contemporânea, oferece um ponto de reflexão sobre a justiça, o passado recente e os desafios do Brasil em fortalecer suas instituições democráticas.
Ambientada durante o período da repressão militar, a narrativa de Ainda Estou Aqui segue a trajetória de uma família brasileira, trazendo à tona as brutalidades de um regime que silenciava dissidências e perseguia aqueles que ousavam questioná-lo. A trama, sensível e visceral, expõe as feridas deixadas pela tortura, pelo exílio e pela censura, forçando o espectador a confrontar um passado doloroso que ainda reverbera no presente.

Ainda Estou Aqui | Foto: Alile Dara Onawale
A consagração do filme no Oscar, um dos maiores palcos de reconhecimento artístico mundial, eleva Ainda Estou Aqui a um patamar de importância histórica. A premiação não só reconhece a qualidade artística da obra, mas também a torna um símbolo da resistência cultural brasileira. Em um país em que os ecos da ditadura militar ainda são parte do debate político, o filme se torna um grito contra o esquecimento, reiterando a necessidade de lembrar e honrar as vítimas do regime autoritário.
Esse reconhecimento chega em um momento crítico para o Brasil, em que a democracia, ainda jovem e vulnerável, enfrenta sérios desafios. O avanço de discursos autoritários e a crescente polarização política reacendem discussões sobre os legados da ditadura e a necessidade de garantir a saúde das instituições democráticas. Ainda Estou Aqui surge, assim, como uma reflexão necessária sobre o risco da perda de conquistas democráticas, mostrando que a liberdade e os direitos civis são frutos de uma luta constante, e que a democracia precisa ser defendida a todo momento.
A obra também serve como um alerta sobre os perigos do autoritarismo e da intolerância. Ao retratar com realismo as práticas de censura, tortura e repressão, o filme nos lembra de que a vigilância permanente é essencial para a manutenção da democracia e para a preservação dos direitos humanos. Ao fazer isso, Ainda Estou Aqui se posiciona como um instrumento educativo e de conscientização, essencial para o entendimento de um passado que ainda molda a política e a sociedade brasileira.
O Oscar conquistado pela obra, portanto, vai além da consagração artística. Ele afirma o valor político e social do filme, destacando sua capacidade de incitar diálogo e reflexão sobre a memória histórica e as condições atuais do Brasil. Agora, com um alcance global, Ainda Estou Aqui se torna uma espécie de embaixador da história brasileira, convidando o mundo a conhecer os desafios e as vitórias do povo brasileiro.
Em última análise, Ainda Estou Aqui é um filme que incomoda, provoca e exige reflexão. Ele desafia o público a reconhecer suas próprias fragilidades e, mais importante, a se engajar na construção de um futuro em que a democracia seja plena e a justiça seja verdadeiramente acessível a todos. A premiação no Oscar não só reforça a importância da obra, mas também destaca que a luta pela democracia continua a ser um legado coletivo, que nos une e nos impulsiona a seguir em frente.
Julienne Silveira é mestra em Letras pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e graduada na mesma área pela UFT. Ela escreve quinzenalmente neste espaço. Atualmente, coordena a Escola de Extensão vinculada à Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários (Proex) da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins).